tDCS e TDAH: O Progresso da Pesquisa e o Potencial de Uma Nova Abordagem Terapêutica
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma das condições neurocomportamentais mais comuns, afetando milhões de indivíduos globalmente, desde a infância até a vida adulta. Caracterizado por desafios significativos na atenção, concentração, controle de impulsos e hiperatividade, o TDAH pode impactar profundamente o desempenho acadêmico, profissional e as relações sociais.
As abordagens terapêuticas convencionais, como a farmacoterapia, são eficazes para muitos, mas frequentemente vêm acompanhadas de efeitos colaterais. O artigo “Research progress of tDCS in the treatment of ADHD”, publicado no Journal of Neural Transmission, fala de aspectos como: riscos cardiovasculares, potencial de abuso em adultos e o alto custo associado ao tratamento de longo prazo. Essa realidade tem impulsionado a comunidade científica a explorar e desenvolver alternativas não farmacológicas mais seguras e bem toleradas.
Compreendendo a tDCS como uma Solução Promissora
Nesse cenário de busca por inovação, a estimulação transcraniana por corrente contínua (tDCS) emerge como uma técnica de neuromodulação não invasiva com grande potencial. A tDCS é um método que aplica uma corrente elétrica fraca e contínua diretamente sobre o couro cabeludo, buscando modular a excitabilidade do córtex cerebral subjacente.
Um dos pontos mais notáveis da tDCS, e que a diferencia de outras técnicas de estimulação cerebral, é seu perfil de segurança. O estudo mencionado enfatiza que comparado com rTMS, tDCS tem maior segurança e tolerância, o que é mais adequado para pediatria. Essa característica a torna uma opção particularmente atrativa para crianças e adolescentes. Adicionalmente, sua natureza de baixo custo e fácil portabilidade contribui para sua crescente acessibilidade e aplicação prática.
O Mecanismo de Ação da tDCS no Cérebro com TDAH
É crucial entender que a tDCS não induz “choques” no cérebro. Em vez disso, sua ação é mais sutil, funcionando como um “modulador” da atividade neural. A corrente contínua não dispara diretamente os neurônios, mas altera o potencial de membrana das células, tornando-as mais ou menos propensas a ativar-se. Esse processo facilita a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do cérebro de reorganizar suas conexões e circuitos neurais.
No contexto do TDAH, as pesquisas com tDCS têm direcionado o foco para áreas cerebrais sabidamente disfuncionais e cruciais para as funções executivas, como:
- Córtex Pré-Frontal Dorsolateral (DLPFC): Esta região é vital para o controle cognitivo, tomada de decisões, planejamento, memória de trabalho e atenção sustentada – funções frequentemente comprometidas no TDAH.
- Giro Frontal Inferior Direito (rIFG): Envolvido na inibição de respostas impulsivas, uma característica central do TDAH.
A modulação dessas áreas através da tDCS é pensada para interagir com sistemas de neurotransmissores como a dopamina e a noradrenalina, que desempenham papéis fundamentais na regulação da atenção, motivação e funções executivas. Ao otimizar a atividade nessas redes, a tDCS visa melhorar os sintomas do TDAH.
Evidências e Perspectivas Futuras
Os estudos atuais sobre o uso da tDCS no TDAH, embora ainda em desenvolvimento, têm mostrado resultados promissores. A técnica tem sido associada à melhora em importantes domínios cognitivos e comportamentais, incluindo:
- Aumento da atenção e concentração: Facilitando a manutenção do foco em tarefas.
- Aprimoramento do controle inibitório: Contribuindo para a redução da impulsividade.
- Otimização da memória de trabalho: Crucial para o processamento e retenção de informações.
Esses benefícios têm sido observados tanto em populações pediátricas quanto em adultos com TDAH. Adicionalmente, a combinação da tDCS com outras intervenções, como o treinamento cognitivo, tem se mostrado uma estratégia com potencial para gerar melhora funcional duradoura sugerindo um efeito sinérgico que pode maximizar os resultados terapêuticos.
É fundamental reconhecer que a pesquisa sobre a tDCS no TDAH está em constante evolução. O artigo aponta que o campo ainda está na sua infância e que há muitos desafios a serem enfrentados no futuro. Isso inclui a necessidade de mais estudos de larga escala, com metodologias padronizadas e protocolos otimizados para determinar os parâmetros ideais de estimulação (intensidade, duração, frequência das sessões).
Contudo, o potencial da tDCS como uma ferramenta terapêutica para o TDAH é inegável. Ela oferece uma rota inovadora e não farmacológica, ou um complemento valioso às terapias existentes, com um perfil de segurança que a torna atraente para um vasto número de pacientes e suas famílias.
Para saber mais: Este artigo baseou-se nas informações contidas no estudo “Research progress of tDCS in the treatment of ADHD” publicado no Journal of Neural Transmission.
Referência
Huang R, Liu Y. Research progress of tDCS in the treatment of ADHD. J Neural Transm (Vienna). 2025 Feb;132(2):237-251. doi: 10.1007/s00702-024-02853-4. Epub 2024 Nov 7. PMID: 39508850; PMCID: PMC11785651.