Vocês já pararam para pensar o quanto nossas emoções nos guiam – ou nos atropelam – ao longo do dia? A ansiedade que aperta antes de uma apresentação, a raiva que ferve no trânsito, a tristeza que insiste em ficar… Quem nunca quis ter um controle remoto para a própria cabeça nessas horas?
Pois bem, prepare-se, porque a neurociência não só está entendendo como o cérebro faz essa “gestão emocional”, como também está desenvolvendo ferramentas para treiná-lo. E uma das mais fascinantes é a HEG – ou Hemoencefalografia. Nesse contexto, a HEG é nossa “janela” para ver o cérebro trabalhando em tempo real, especialmente na regulação emocional.
Afinal, o Que Raios é Essa HEG?
Vamos descomplicar. Nosso cérebro consome uma energia brutal. E essa energia chega lá em forma de sangue oxigenado. Onde o cérebro está mais ativo, mais sangue e oxigênio são demandados. A sacada da HEG (ou, em alguns estudos, como o que analisei, a fNIRS – espectroscopia funcional por infravermelho próximo – que trabalha com princípios semelhantes de medição de oxigenação do sangue) é exatamente essa: ela mede as mudanças no fluxo sanguíneo e na oxigenação em regiões específicas do seu cérebro.
Ou seja, a HEG nos permite “espiar” quais áreas do córtex estão ligando e desligando, quais estão em pleno vapor e quais estão dando uma trégua. É como ter um painel de controle mostrando o consumo de energia em diferentes partes da sua “máquina de pensar”.
O Maestro da Orquestra Emocional: O Córtex Pré-Frontal Ventrolateral (VLPFC)
Quando o assunto é regulação emocional, não estamos falando de magia, mas de circuitos neurais complexos. E um dos protagonistas nessa história é o córtex pré-frontal ventrolateral (VLPFC). Pense nele como o maestro de uma orquestra. Quando as emoções (a “música” que toca lá no sistema límbico, a nossa “área dos sentimentos”) começam a sair do tom, o VLPFC entra em ação para harmonizar tudo. Ele seleciona as estratégias certas para você não surtar, como a reavaliação cognitiva – aquela manha de “ver o lado bom” ou “dar outro significado” para uma situação chata.
HEG (fNIRS) e o Treino de Emoções: A Neuroplasticidade em Ação
Agora, a parte mais legal: e se a gente pudesse treinar esse maestro? O neurofeedback baseado em HEG faz exatamente isso!
Nesse tipo de treino, você recebe um feedback em tempo real da atividade do seu VLPFC. É como se um termômetro na sua frente mostrasse o quão “ligado” ou “desligado” seu maestro está. A ideia é simples: se você quer regular uma emoção, precisa ativar ou desativar o VLPFC. E ao ver essa atividade na tela, seu cérebro começa, por tentativa e erro e por reforço, a aprender a controlá-la! Não é mágica, é o cérebro aprendendo sobre ele mesmo, ativando sua neuroplasticidade.
Um estudo recente, superinteressante, com 90 participantes, investigou exatamente isso. Metade recebeu treino real (feedback da atividade do VLPFC) e a outra metade, um feedback falso (sham). O resultado? Não é todo mundo que pega de primeira, mas aqueles que se mostraram mais “eficazes” no treino (o famoso grupo de “alta eficácia”) tiveram resultados incríveis:
- Redução significativa das emoções negativas.
- Aumento da atividade do VLPFC durante tarefas de regulação emocional.
- E a grande sacada: a eficiência desse treino previu o benefício na regulação emocional. Ou seja, quanto mais o cérebro aprendia a se regular com a HEG, melhores eram os resultados emocionais!
É uma sequência lógica: treina bem seu VLPFC e ele trabalha melhor nas emoções e você sente menos o peso das emoções negativas. E tem mais: o estudo também descobriu que quem já tinha o hábito de usar estratégias de reavaliação cognitiva (o famoso “olhar por outro ângulo”) na vida diária, tinha uma maior eficiência no treino de HEG! Isso não é fascinante?
O Futuro da Sua Calma Está no Seu Cérebro
O HEG não é apenas uma ferramenta de pesquisa. Ela é uma promessa de intervenção personalizada para nos ajudar a ter mais controle sobre nossas emoções, combatendo ansiedade, stress e até abrindo caminhos para tratamentos de transtornos emocionais. É a ciência nos mostrando que o cérebro é, sim, uma máquina incrível, e que podemos, com as ferramentas certas, aprender a ser os verdadeiros pilotos da nossa própria vida emocional.
Porque, no fim das contas, a capacidade de regular o que sentimos não é só um luxo, mas uma necessidade para viver bem. E a neurociência está aqui para nos dar o manual.
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1053811925000813?via%3Dihub